Neste sábado, na Premier League, teremos o embate entre dois ex-campeões europeus: Aston Villa e Nottingham Forest.
Essa partida pode surpreender os torcedores brasileiros, já que esses clubes não são considerados gigantes constantemente na disputa por títulos importantes. No entanto, conquistaram um prestígio invejável, rivalizando com Arsenal e Tottenham, as verdadeiras potências tradicionais de Londres.
Essa perspectiva pode parecer peculiar aos olhos sul-americanos. Neste lado do Atlântico, os países têm uma tendência de centralização, refletida no cenário do futebol. Geralmente, os times tradicionais e bem-sucedidos estão sediados na capital. O campeonato raramente se estende para além de Buenos Aires, Santiago, Montevidéu, Assunção e Lima, por exemplo.
Após as décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, período em que a competição continental teve início e se consolidou, houve um notável crescimento na economia europeia.
A força das cidades provincianas no futebol europeu
Cidades do interior transformaram-se em potências industriais, e foram os times dessas localidades, não das capitais, que produziram campeões continentais. Houve algumas exceções notáveis, como Espanha (Real Madrid) e Portugal (Benfica), provavelmente influenciadas pelo contexto político local, e talvez devido ao tamanho reduzido do país, como no caso da Holanda (Ajax, embora o primeiro clube holandês a conquistar a Europa tenha sido o Feyenoord, de Roterdã).
Entretanto, o padrão predominante era a vitória do título por clubes provenientes de cidades industriais e provincianas, como o Nottingham Forest (1980 e 81) e o Aston Villa, de Birmingham, em 1982.
Na Inglaterra, a supremacia dos clubes do interior remonta aos anos anteriores ao boom pós-guerra, desde a formação da Football League, uma liga criada pelos próprios clubes provincianos.
O futebol não se estabeleceu primeiro em Londres, no sul, mas sim com uma força impressionante nas zonas industriais do norte e nos ‘Midlands’, a região central do país, de onde surgiram Forest e Villa.
Nottingham era uma cidade têxtil, especializada em renda, e mais tarde também na produção de bicicletas. O Forest foi fundado em 1865, apenas três anos depois do rival Notts County, sendo os clubes mais antigos nas quatro divisões profissionais.
Birmingham foi a primeira cidade industrial do mundo, repleta de oficinas que produziam obras de qualidade, e onde o motor a vapor foi inventado, revolucionando o mundo. O Aston Villa, principal clube da cidade, desempenhou um papel crucial ao perceber a necessidade de uma liga organizada, levando à criação da Football League em 1888.
Apesar de sua origem em uma cidade menor, o Nottingham Forest não alcançou os mesmos patamares até a época brilhante sob o excepcional comando do técnico Brian Clough no final dos anos 1970 e início dos anos 1980. Hoje em dia, luta para evitar o rebaixamento.
O Aston Villa, por outro lado, deveria ser mais proeminente. Sua atual quarta colocação deveria ser considerada normal, não surpreendente. É o maior clube da segunda maior cidade do país, superando Manchester e Liverpool. No entanto, possui apenas um título da Premier League (em 1981) e a conquista europeia no ano seguinte em quase 115 anos.
Pode ser que Birmingham e seus arredores tenham uma quantidade excessiva de clubes, o que dilui as chances de cada um. Talvez. No entanto, o Aston Villa deveria ter mais títulos. Dadas as circunstâncias atuais, é difícil imaginar o Forest competindo com os gigantes.
Se o Porto é capaz de superar o Arsenal, por que não o Aston Villa? Infelizmente, a economia local não está favorecendo. A desindustrialização atingiu fortemente essas áreas fora de Londres. A prefeitura de Birmingham está enfrentando dificuldades financeiras, anunciando demissões, redução na coleta de lixo e cortes nos gastos com iluminação nas ruas. É uma realidade triste para a cidade que foi a oficina do país, aumentando a responsabilidade do Aston Villa em proporcionar luz e alegria para sua torcida.
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